quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Triste espera

De tantos infinitos surdos,

Em tantas mesas postas

Um homem chora, taciturno,

Com toda a miséria nas costas.



E de tentar, cai derrotado...

Atado em si, sem pés, em vão.

E por tanto sofrimento calado,

Onde estás tu, Revolução?



Entorpeço-me de crime e castigo,

Onde tenho direito sobre a morte.

Sem fé na história, sou testigo

Da desgraça dos homens sem sorte.



E tu, aí parado, não fazes nada?

Cheio de vaidades, mas lambendo chão!!!

Eis aqui, onde destruímos a risada...

E onde estás tu, Revolução?

domingo, 26 de dezembro de 2010

Vendo Van Gogh

Nos vícios o abrigo dos sorrisos.

Uma liberdade aparente, ingrata...

Que tece os fios das estradas de ser.

De entradas e saídas e curvas indefinidas,

Um inverno que proíbe flores,

Mas buscam-se suas cores.

Resta uma, a mais colorida,

Que o gelo não fez cair.

Fuga das ordens de pensamento;

Doce insanidade tentadora,

Que fecha a porta às costas

No corredor sombrio da solidão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pra onde vamos?

- Também temos o direito de sermos egoístas,
diz Victor Hugo. Pensei com ele.

- Podemos viver no imediato, sem preocupações com a humanidade. Afinal, morrer não é muito diferente de nascer, então, pra que as preocupações? É isto aqui e pronto.
- Mas, e quem vive com ideais no sangue, com revolta na alma?

Viver nas possibilidades de Revolução. Viver de querer a igualdade. Idéia que de improvável por desesperança, torna-se triste.
Substituiram a palavra ideal pela palavra sonho. Fizeram-nos loucos ou sonhadores. Por fim, sem mais nada melhor... o imediato é mais simples. E temos o direito de sermos egoístas.

O problema é que já o fomos por tempo demais.

Pra onde vamos?
Só não vou para Pasárgada,
Porque sou inimigo dos Reis

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Mago e a bruxa [primeiro encontro]

Primeiro Momento

Semicerro os olhos envoltos em fumaça.
A nuvem é uma bruxa que me leva a caminhar...
Respirar ar fresco e erguer um pouco os braços.
É cansaço Pessoa, é cansaço.
Do abismo que escalo,
Dos gritos que calo.
Na cela, junto retalhos e faço bombas.
Tormentosa espera que me faz refém.
Esperando verem refletidas
As pungentes chamas ardidas
No labirinto de um além...

Segundo Momento

O espelho da bruxa desvenda magos inquietos...
Portam chamas nos olhos. Todos.
O fogo toma o espelho e ocupa o quarto...
O desespero, as vontades;
Não há fuga. Todo sentimento de revolta
Surge de um grito de dor.
E o fogo alastrou-se pela cidade inteira.
Os esgotos explodiam, um após outro, e eis que,
No apagar das luzes, o Poder desabou...
E Nero se ria por zombarem dele.
Mas o povo ainda cantava.

domingo, 8 de agosto de 2010

Lamento a uma interdição

Não queria que minha produção dependesse diretamente do quanto exploram meu trabalho. Absorvem tudo que é vital, velhos morcegos. Queria ter um relógio com mais números, como dizia minha tia Gladis. Ou talvez menos trabalho.

sábado, 1 de maio de 2010

O Saturno de Goya

Há uma eterna luta entre o homem e os limites de sua razão. Enquanto o irracionável existir, continuaremos em construção. Homens inacabados. Com medo do tempo mergulhamos no imediato. Confundimos ilusão com futuro para dormir melhor, e passamos pela vida tímidos, interditados, indivíduos. Sendo apenas indivíduos jamais chegaremos ao homem. Eterna interdição que nos exime da dor ao lado. Perante o outro, nosso espírito não se constrói apenas das diferenças, mas do sentimento de igualdade.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Céu aos homens

Sonhei que voava em sol de outono;
Sorria lágrimas.
Não é privilégio voar em sonhos.
Muitos voam ainda pequenos,
Basta observar os pássaros.
Voar é um fato a eles,
Aos homens, é vontade.
Tira-se dos pássaros o vôo...
Tira-se dos homens a alma.
Não queria asas para ter controle,
Queria fazer parte do céu.
Um céu comum, sem almas amputadas,
sem gaiolas armadas.
Onde pássaros sorriem lágrimas
Naquele sol de outono.

Não sei mais se os pássaros voam de fato,
ou se estão apenas sonhando.