Demorei a escrever e aproveito para registrar meu afastamento digital. Ando ocupando-me de obrigações que sequestram-me até a luz do sol. Sequer acompanho os fins de tarde do verão. Alugo oito horas do meu dia para comer e sustentar meus hábitos. Durmo outras oito, pois dormir menos cansa-me de encurvar a coluna e diminui meu tamanho. Quando minhas vértebras pesam, confiro ao meu semblante um aspecto de derrota. Incomoda-me. As outras oito horas tenho dedicado-me ao amor, aos amigos (para abrir mão, melhor que não haja vida) e às mais diversas artes para desenvolver meu espírito. Sinto que compreendendo a música, a pintura, o teatro, a literatura, a filosofia e outras artes, leio mais claramente as diferenças humanas. Não para erguer a diferença entre os homens como bandeira, mas para sentir onde somos iguais. Porém só consigo dedicar-me as artes quando não tenho afazeres domésticos ou preguiça. Quando se tem seis folgas em um mês de trinta dias é difícil conseguir dispor de muitas energias contra a preguiça. E no último fôlego para o sopro de resistência olho pela janela, e ao ver tantas vidas ordinárias, desanimo. Mas hoje resolvi relegar o desânimo, a preguiça, as artes e o parto da monografia para divagar sobre minhas angústias. Meu problema não é o trabalho, mas seu produto. Gostaria de trabalhar na mudança própria da ordem das coisas do mundo e não na manutenção desta ordem. Ordem injusta, estranha, covarde. Não quero ser mais um trabalhador curvado aguardando apenas o tempo passar depressa.
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